segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Ciúme, Posse e Poder

Pode parecer radical falar assim mas não há amor onde existe o ciúme. O ciúme é claramente uma condição de posse, poder e controle que o enciumado exerce sobre aquilo que ele considera como seu. Em termos práticos algo como "Ele é meu e de mais ninguém", "Não posso perde-lo", "Não consigo imagina-la com outro", ou em alguns casos mais severos "Ela não pode ser feliz longe de mim". Oras, não se perde aquilo que não se tem, nem se controla o que não pode ser controlado, pois cada um é de cada um, ou como diz um ditado popular "Ninguém é de ninguém".

No relacionamento onde o ciúme está presente o amor passa longe, pois a condição existente é a da exploração, ou seja, o outro me serve para algumas coisas e por isso não posso perde-lo ou abrir mão dele. Disfarçado de amor ou zelo está o controle, a vigilância, a carência e o apego. O ciumento é um inseguro por natureza, ele acredita que os outros são uma ameaça e confunde a posse de coisas com pessoas. Vive comparando a si mesmo e ao outro, muitas vezes na tentativa de convencer que é melhor do que os demais. Também gosta de ser poderoso, só não se dá conta que querer ter poder sobre o outro é uma clara demonstração de medo e fraqueza.

O hilário é que num aspecto mais profundo a energia de ciúme desprendida pelo ciumento é sentida no outro que de forma inconsciente começa a dar mais valor a própria liberdade e consequentemente acaba despertando interesse por outras pessoas. Somos seres únicos, individuais, nascemos para ser livres e a liberdade é uma condição inata em nós, portanto quando de alguma forma somos podados ou controlados mesmo que de forma sutil, um impulso por liberdade se faz presente e acabamos por busca-la de um jeito ou de outro. Sentir ciúme do parceiro é quase como chuta-lo para longe de nós mesmos, principalmente se este já tem dúvidas ou conflitos com o relacionamento, do contrário o ciúme não teria qualquer efeito.

Não há como amar algo preso, confinado, forçado e com medo da perda, pois na real condição amorosa o que interessa é o bem do outro mesmo que distante de nós, é assim que é e assim que deve ser. No amor a liberdade é ingrediente básico, não há desejo de posse, de poder nem de controle, pelo contrário, o desejo é o de que o outro seja livre, abundante e feliz naquilo que quer e deseja, há respeito no espaço e individualidade, essa é a verdadeira proteção, o verdadeiro zelo, o verdadeiro cuidado com o outro, e é dessa condição que o amor brota.

Alguns podem dizer "isso não é bem assim", frase bastante compreensível uma vez que a maioria das pessoas não sabe se relacionar de forma desapegada, afinal fomos condicionados desde pequenos a agir assim, defender o que é "nosso", e enquanto persistirmos nesse velho jeito de se relacionar estaremos cada vez mais longe do amor e da felicidade.

Ugo Micael Ventura
http://tempodegerminar.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...